quinta-feira, 16 de abril de 2009

Impávidos minúsculos corações

Fora presa. Passeava na avenida, calor intenso de uns 40°, carros abrindo feridas no ozônio. Do alto vinha um som sutil, que parecia de algo bem pequeno. Estava passando por uma humilde lanchonete onde avistou a gaiola e o minúsculo elemento a cantar (como poderia cantar?). Era quase inevitável. A dor não pára. Num pulo ela agarrou aquela frágil jaula, quebrou-a com se, com pressa, abrisse uma bala. Adrenalina. A figurinha cantante cantava com grande afã, com medo, e debatia-se pelos “cantos”. Como em qualquer outra cidade grande, havia uma viatura da PM como parte da ferida, passando na avenida, que fora subitamente surpreendida pela dona da lanchonete-velha tirana e indiscreta.
Levaram a moça. Ainda revoltada segurava pedaços descartáveis de madeira, fragmentos do cárcere. O canto havia cessado. O transito voltava ao normal. O barulho era mudo e indiferente. A moça, agora, cantava em sua cela (como poderia cantar?). Salvara a sua intenção de liberdade, mas não a existência de uma pobre criatura que nem sabia voar.

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